terça-feira, 22 de março de 2011

Ruth Benedict

Ruth Benedict, nascida Ruth Fulton, (Nova Iorque, 6 de Junho de 1887 — Nova Iorque, 17 de setembro de 1948) foi uma antropóloga americana.
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Ela nasceu na cidade de Nova Iorque, tendo estudado no Vassar College, onde se formou em 1909. Iniciou sua graduação na Universidade de Columbia em 1919. Lá entrou em contato com Franz Boas e se tornou PhD. Em 1923 tornou-se membro da mesma universidade.
Margaret Mead, com quem manteve relacionamento amoroso, e Marvin Opler foram alguns de seus colegas e alunos. Franz Boas, seu professor e orientador, considerado o pai da antropologia americana, teve seus pontos de vista manifestos em Ruth Fulton Benedict. São de autoria de Boas muitos trabalhos clássicos, inclusive “Raça, Linguagem e Cultura” – provavelmente o mais veemente texto anti-racista a surgir do mundo acadêmico em sua época. Sobre este tema ela provou que esses três aspectos são independentes: raça, linguagem e cultura. Depois de Boas tornou-se impossível falar que qualquer raça é inferior, incapaz de se aproveitar daquilo que de mais elevado culturalmente a humanidade tem a oferecer, e ser seriamente levado em consideração.

Padrões de Cultura
O livro Padrões de Cultura (1934) foi traduzido para quatorze idiomas e publicado em diversas edições como leitura introdutória em muitos cursos de antropologia em universidades americanas por muitos anos.
A ideia central de “Padrões de Cultura” é, na opinião de Margaret Mead “a visão que ela teve das culturas humanas como ‘grande regulamento de personalidade’ ”.
Cada cultura, explica Benedict, seleciona dentro da “grande gama das potencialidades humanas” algumas poucas características aceitas como formas adequadas de conduta das pessoas que fazem parte dessa cultura.
Por exemplo, ela descreveu a ênfase na “restrição” nas culturas dos povos Pueblo do sudoeste americano, e a ênfase no “desprendimento” nas culturas nativas das Grandes Planícies americanas.
Ela descreveu como na Grécia Antiga a adoração a Apolo destacava a ordem e a calma em suas celebrações. Em oposição a isto, os adoradores de Dionísio, o deus do vinho, enfatizaram a vida em estado selvagem, o despojamento e a despreocupação com os rumos dos acontecimentos. Isto não estava ausente nas culturas nativas das Américas. Descreveu em detalhes os contrastes entre rituais, crenças, preferências pessoais de povos de diferentes culturas para mostrar o quanto cada cultura tinha uma “personalidade” que era estimulada em cada indivíduo.

Outros antropólogos da escola da “cultura e personalidade” enveredaram por esse raciocínio – notavelmente Margaret Mead em “Coming of Age in Samoa” (Chegando à Maioridade em Samoa) e “Sexo e Temperamento em Três Sociedades Primitivas”. Abram Kardiner foi influenciado por essas ideias, e nesse momento nasceu o conceito de “personalidade modelo”: o conjunto de características que se pensou observar em pessoas de qualquer cultura dada.

Benedict, em “Padrões de Cultura”, expressa sua confiança no relativismo cultural. Sua pretensão foi demonstrar que cada cultura possui seus próprios imperativos morais, que só poderiam ser compreendidos se se estudasse a cultura como um todo. Ela percebeu que seria errado menosprezar os costumes ou valores de uma cultura diferente da nossa.
Tais costumes teriam um significado para as pessoas que os adquiriram que não deveriam ser julgados apressada ou superficialmente.
Não deveríamos tentar avaliar um povo somente com nossas referências.
Moralidade, conclui ela, é relativa.

Ao escrever sobre os Kwakiutls da Costa Noroeste, os Pueblos do Novo México, as nações das Grandes Planícies, e a cultura Dobu da Nova Guiné, ela evidenciou que valores, mesmo nos aspectos que destoam dos valores do estudante de antropologia que está lendo “Padrões de Cultura”, pertencem a sistemas culturais coerentes e precisam ser respeitados.

Quaisquer que tenham sido os imperativos descritos pelos antropólogos como universais, não restritos a uma cultura, o esforço pioneiro de Benedict de descrever culturas por inteiro e a defesa da igualdade transcultural foram marcos que resistiram aos tempos. Críticos argumentaram que os padrões que ela encontrou talvez sejam apenas uma parte, um aspecto contingente, das culturas em sua completude. Por exemplo, David Friend Aberle escreveu que os Pueblo talvez sejam calmos, gentis e muito dispostos a realizar rituais quando em um determinado estado de espírito ou circunstância, mas podem se tornar desconfiados, vingativos e belicosos na situação oposta. No entanto, mesmo com a presença de discordâncias com Benedict na literatura, suas breves descrições são consideradas vívidas, acessíveis, relevantes para qualquer ser humano, e tão longe quanto puderam ir, penetrantes e acuradas. Em 1936 foi designada professora associada da Universidade de Columbia.


“As Raças da Humanidade”
Benedict estava entre os principais antropólogos culturais recrutados pelo governo dos Estados Unidos para pesquisar os relatos de guerra e dar consultoria após a entrada do país na Segunda Guerra Mundial. Um de seus trabalhos menores foi um panfleto intitulado As raças da Humanidade, escrito em parceria com seu colega no Departamento de Antropologia da Universidade de Columbia. Esse panfleto dirigido às tropas americanas difundiu, em linguagem acessível e acompanhado de quadrinhos, a visão científica contra as crenças racistas. “O mundo está encolhendo”, começa Benedict. “Trinta e sete nações estão agora unidas por uma causa comum – a vitória sobre a agressão das Potências do Eixo, a destruição militar do fascismo (p.1).” As nações unidas contra o fascismo, dizem os autores, incluem “os mais diversos tipos físicos de homens”. Eles explicam, a cada seção, a melhor evidência que conhecem da igualdade humana. Eles pretendem encorajar todos esses tipos de pessoas a se unirem e evitarem a guerra entre si. “Os povos do mundo”, eles destacam, são uma família. Nós todos temos o mesmo número de dentes, de molares, até mesmo de pequenos ossos e músculos – nós só podemos ter vindo de um único grupo de ancestrais, não importam nossa cor, o formato de nossas cabeças, os tipos de nossos cabelos. “As raças da humanidade são o que a Bíblia diz—irmãs. Em seus corpos está a marca de sua irmandade.”

O meio ambiente determina características físicas. Pele escura proporciona alguma proteção contra poderosos raios solares, por exemplo. Mas quaisquer que sejam as nossas características físicas, independentemente do formato ou tamanho de nossa cabeça, nós somos igualmente inteligentes. “O melhor cientista é incapaz de dizer a partir do exame de um cérebro a que grupo étnico seu dono pertence... Alguns dos homens mais brilhantes do mundo tiveram cérebros muito pequenos. Por outro lado, o maior cérebro do mundo pertence a um imbecil.”

O meio ambiente, no qual o gasto que se teve com educação interfere, tem um papel mais importante na determinação da inteligência do que o nascimento. Os “brancos sulistas” (dos EUA), por exemplo, fizeram menos pontos que os “negros do norte” (dos EUA) nos testes de QI realizados pelas Forças Expedicionárias Americanas (AEF) na Primeira Guerra Mundial. Devemos levar em consideração que os gastos escolares no sul eram apenas “frações” dos gastos nos estados do norte em 1917.

“A diferença… [aparece] por causa das diferenças de rendimento, educação, vantagens culturais, e outras oportunidades.”
Não apenas a inteligência das pessoas é a mesma, em todos os aspectos, mas o sangue tem a mesma composição química. Povos diferentes não têm sangues distintos – “todas as raças humanas têm todos os tipos de sangue” – e podem receber transfusões de sangue de uma para outra para salvar vidas.

E todas as pessoas são produto de miscigenação racial, produzida pelo “movimento dos povos sobre a face da Terra... desde antes do início da história.” Essa constatação, dentre outras, serve para combater a ideia de superioridade racial, que “um homem reivindica quando diz, ‘eu nasci membro de uma raça superior’.” Preconceito racial, dizem os autores, “torna as pessoas desumanas”.


O Crisântemo e a Espada
Benedict não é conhecida apenas por sua primeira obra, “Padrões de Cultura”, mas também por seu último livro, O Crisântemo e a Espada, o estudo da sociedade e da cultura do Japão que ela publicou em 1946, com a incorporação dos resultados de sua pesquisa durante a guerra.

Esta obra é um exemplo de “antropologia à distância”. Estudar a cultura por meio de sua literatura, recortes de jornais, filmes e arquivos, entrevistas com imigrantes, etc., foi necessário num momento em que antropólogos apoiavam os Estados Unidos e seus Aliados na Segunda Guerra Mundial. Impossibilitados de visitar a Alemanha nazista ou o Japão de Hirohito, antropólogos valeram-se de tais materiais culturais e puderam produzir estudos à distância. Eles tentavam entender os padrões culturais que deveriam orientar seu ataque e esperavam encontrar pontos fracos ou maneiras de persuadi-los de que haviam perdido.

O trabalho de Benedict a respeito da guerra inclui um importante estudo, terminado em 1944, cujo objetivo foi entender a cultura japonesa; destinava-se aos Aliados que estavam em combate com as forças armadas japonesas no Teatro do Pacífico da Segunda Guerra. Os americanos consideravam-se incapazes de compreender assuntos da cultura japonesa. A princípio, os americanos consideravam muito natural os prisioneiros de guerra quererem que suas famílias soubessem que estavam vivos, e ficarem calados quando inquiridos sobre o movimento das tropas, etc. Enquanto isso, prisioneiros de guerra japoneses, aparentemente, davam informações desse tipo facilmente e não tentavam contatar suas famílias. Por que isso? Por que, alem disso, os asiáticos não tratavam os japoneses como libertadores do colonialismo ocidental, nem aceitavam seu suposto óbvio lugar numa hierarquia na qual o Japão ocupava o topo?

Benedict desempenhou um papel fundamental na compreensão do lugar do Imperador do Japão na cultura popular japonesa, e formulou ao presidente Franklin D. Roosevelt uma recomendação segundo a qual permitir a perpetuação do governo imperial seria imprescindível para uma eventual rendição.

Enquanto um crítico escreveu que “O Crisântemo e a Espada” “não tem credenciais já que Benedict não teve qualquer experiência direta no Japão” e descreveu o livro como “considerado superficial e claramente racista”, o embaixador japonês no Paquistão fez a seguinte declaração em público:

Em 1946, Ruth Benedict, reconhecida antropóloga cultural americana, publicou um livro sobre o Japão intitulado “A Espada e o Crisântemo”, que tem sido leitura obrigatória para muitos estudiosos de temas japoneses.
Outro japonês que leu esta obra, segundo Margaret Mead, considerou-a muito acurada em sua totalidade, embora um pouco “moralista”. Trechos do livro foram mencionados em A Anatomia da Dependência, de Takeo Doi, onde ele usa alguns dos conceitos da obra de Benedict para ampliar suas ideias, assim como para fazer uma crítica a conceitos abordados no livro. Esse trabalho é ainda tratado como um clássico cujo valor permanece mesmo com as mudanças na cultura japonesa no pós-guerra.

Pós-Guerra
Ela continuou lecionando após a guerra, e alcançou o cargo de professora plena apenas dois meses antes de sua morte, ocorrida em Nova York em 17 de setembro de 1948.

Um selo postal em sua homenagem foi impresso em 1995.

Bibliografia
"Padrões de Cultura", Ruth Benedict, Editora Livros do Brasil
"O Crisântemo e a Espada", Ruth Benedict, Editora Perspectiva, 2006

http://pt.wikipedia.org/wiki/Ruth_Benedict

Margaret Mead

Margaret Mead (Filadélfia, 16 de Dezembro de 1901 — Nova Iorque, 15 de Novembro de 1978) foi uma antropóloga cultural norte-americana.

Nasceu na Pensilvânia, criada na localidade de Doylestown por um pai professor universitário e uma mãe activista social. Graduou-se no Barbard College em 1923 e fez doutorado na Universidade de Columbia em 1929. Em 1925, ficou conhecida pelo trabalho de campo na Polinésia. Em 1926, colaborou no Museu Americano de História Natural, em Nova Iorque, como assistente do diretor, e depois como diretora de etnologia (de 1946 a 1969). Durante a Segunda Guerra Mundial, foi secretária executiva do comité de hábitos alimentares do Conselho Nacional de Investigação.

Entre os anos de 1946 e 1953, Margaret Mead integrou o grupo reunido sob o nome de Macy Conferences, contribuindo para a consolidação da teoria cibernética ao lado de outros cientistas renomados: Arturo Rosenblueth, Gregory Bateson, Heinz von Foerster, John von Neumann, Julian Bigelow, Kurt Lewin, Lawrence Kubie, Lawrence K. Frank, Leonard J. Savage, Molly Harrower, Norbert Wiener, Paul Lazarsfeld, Ralph W. Gerard, Walter Pitts, Warren McCulloch e William Ross Ashby; além de Claude Shannon, Erik Erikson e Max Delbrück.

Desde 1954, trabalhou como professora adjunta da Universidade de Columbia. Seguindo o exemplo da instrutora e amante Ruth Benedict, concentrou os estudos em problemas de criança infantil, personalidade e cultura.

Há desacordo com certas conclusões do primeiro livro, Adolescência, Sexo e Cultura em Samoa (1928), baseado em investigações feitas como estudante pré-graduada; e em trabalhos publicados posteriormente, baseados no tempo que passou na Papua-Nova Guiné, como pessoa letrada pelas culturas descreveu ter posto em causa algumas das observações. Todavia, a posição como antropóloga pioneira — uma que escreveu de forma suficientemente clara e vívida para que o público em geral lesse e aprendesse com os trabalhos — permanece firme.

Margaret Mead foi casada três vezes, primeiro com Luther Cressman e depois com dois colegas antropólogos, Reo Fortune e Gregory Bateson. De Bateson teve uma filha, também antropóloga, Mary Catherine Bateson. A neta, Sevanne Margaret Kassarjian, é actriz de teatro e televisão e trabalha profissionalmente sob o nome artístico de Sevanne Martin.


Adolescência, Sexo e Cultura em Samoa
No prólogo deste livro, o assessor de Margaret Mead, Franz Boas, escreveu acerca da importância que:

Cortesia, modéstia, boas maneiras, conformidade são universais para os padrões éticos definitivos, mas o que constitui a cortesia, a modéstia, as boas maneiras e os padrões éticos definitivos não é universal. É instrutivo saber que os padrões diferem nas formas mais inesperadas.
Franz Boas quis realçar que, no momento da publicação, muitos americanos haviam começado a discutir os problemas enfrentados pelos jovens (especialmente as mulheres) quando passam pela adolescência como "períodos inevitáveis de ajustamento". Boas sentia que um estudo dos problemas enfrentados pelos adolescentes numa outra cultura seria esclarecedor.

Por outro lado, a mesma Margaret Mead descreveu o objectivo da investigação da seguinte maneira:
"Tratei de dar resposta à questão que me enviou a Samoa: Os distúrbios que angustiam os nossos adolescentes devem-se à natureza própria da adolescência ou à civilização? Sob diferentes condições a adolescência apresenta diferentes circunstâncias?"
Chegou à conclusão de que assim era.

Mead conduziu estudo entre um pequeno grupo de samoanos, numa aldeia de 600 pessoas na ilha de Tau — na qual se familiarizou, viveu, observou e entrevistou (através de um intérprete) 68 mulheres jovens entre os 9 e os 20 anos.

Concluiu que a passagem da infância à adolescência na Samoa era uma transição suave e não estava marcada pelas angústias emocionais ou psicológicas, e a ansiedade e confusão observadas nos Estados Unidos.

Como Boas e Mead esperavam, este livro indispôs os ânimos de muitos ocidentais quando apareceu pela primeira vez, em 1928. Muitos leitores americanos ficaram em choque pela observação de que as jovens mulheres samoanas adiavam o casamento por muitos anos enquanto desfrutavam do sexo ocasional, mas que, uma vez casadas, assentavam e criavam com êxito os próprios filhos.

Em 1983, cinco anos depois da morte de Mead, Derek Freeman publicou Margaret Mead e Samoa: a construção e destruição de um mito antropológico, onde punha em causa os principais achados de Mead.
Freeman baseou a crítica nos quatro anos de trabalho de campo em Samoa e em entrevistas recentes com informantes sobreviventes da época de Mead.
O argumento dependia do lugar do sistema taupou na sociedade samoana. Segundo Mead, o sistema taupou consistia numa virgindade institucionalizada, exclusivamente, para as mulheres jovens de alto estatuto social. Segundo Freeman, todas as mulheres samoanas seguiam o sistema taupou e as informantes de Mead entrevistadas negaram ter estado envolvidas em sexo ocasional quando eram jovens e declararam ter mentido a Margaret Mead.

Após uma acesa discussão inicial, muitos antropólogos concluíram que a verdade absoluta, provavelmente, nunca se conheceria.

De qualquer forma, muitos acharam a crítica de Freeman altamente questionável.

Em primeiro lugar, especularam acerca do facto de que Freeman tivesse esperado que Margaret Mead morresse para publicar a crítica de forma a que ela não pudesse responder.

Por outro lado, assinalaram que as informantes originais de Mead eram, então, mulheres idosas, avós e se tinham convertido ao cristianismo. Fizeram notar ainda que a cultura samoana havia mudado consideravelmente nas décadas seguintes à investigação original de Mead e que, depois da intensa actividade missionária, muitos samoanos haviam adoptado exactamente os mesmos padrões sexuais dos americanos que tinham anteriormente ficado tão chocados com o livro de Mead. Sugeriram que, como mulheres nesse novo contexto, era inaceitável falar francamente acerca do comportamento adolescente (note-se também que uma das entrevistadas de Freeman deu a nova fé como razão para admitir o erro do passado). Finalmente, sugeriram que aquelas mulheres não seriam tão francas e honestas acerca da sexualidade quando falavam com um homem entrado em anos, como haveriam sido ao falar com uma mulher jovem.

Muitos antropólogos também acusaram Freeman de ter o mesmo ponto de vista sexual etnocêntrico que tinham as pessoas que Boas e Mead impressionaram.

Os antropólogos também criticaram as bases metodológicas e empíricas de Freeman. Por exemplo, acusaram Freeman de ter confundido ideais publicamente articulados com normas de comportamento, quer dizer, enquanto muitas mulheres samoanas admitiriam em público que é ideal manter a virgindade, na realidade praticariam altos níveis de sexo pré-matrimonial e gabavam-se entre si acerca das aventuras sexuais. Os próprios dados de Freeman apoiavam as conclusões de Mead: em uma aldeia samoana do oeste documentou que 20% das mulheres de 15 anos, 30% das de 16 e 40% das de 17 se haviam envolvido em sexo prematrimonial. Em 1983, a Associação Americana de Antropologia emitiu uma moção declarando o livro de Freeman, Margaret Mead e Samoa, como "mal escrito, pouco científico, irresponsável e enganoso". Nos anos seguintes, antropólogos debateram vigorosamente esses problemas mas, de uma forma geral, apoiaram a crítica a Freeman.

Freeman continuou argumentando o caso na publicação de 1999 A fatídica fraude de Margaret Mead: uma análise histórica da investigação samoana.

Investigações de Mead noutras sociedades

Outro livro extremamente influente de Mead foi Sexo e Temperamento em Três Sociedades Primitivas.
Este converteu-se na principal pedra angular do movimento de libertação feminina, desde que assegurou que as mulheres eram as que dominavam na tribo Tchambuli (agora Chambri) de Papua-Nova Guiné (no Pacífico Oeste) sem causar nenhum problema em especial.
A carência de dominação masculina poderá ter sido o resultado da proibição da guerra por parte da administração australiana. De acordo com investigações contemporâneas, os homens dominam em toda a Melanésia (embora alguns creiam que as bruxas têm poderes especiais). Outros discutiram que, todavia, há grande diversidade cultural ao longo da Melanésia e, especialmente, na grande ilha da Nova Guiné. Por outro lado, os antropólogos frequentemente não entendem a importância das redes de influência política entre as mulheres. As instituições de domínio masculino formal, típicas de algumas áreas de alta densidade populacional, não estavam presentes da mesma forma, por exemplo, em Oksapmin (província do oeste de Sepik), uma área de população mais escassa. Os padrões culturais ali eram diferentes, digamos, dos de Mt. Hagen. Eles eram mais próximos àqueles descritos por Mead.

Mead indicou que a gente de Arapesh era pacifista, embora notasse que, eventualmente, guerreavam. Por outro lado, as suas observações acerca da forma de compartir as parcelas entre os Arapesh, o ênfase igualitário na criança infantil e as relações predominantemente pacíficas mantidas entre parentes, eram muito diferentes às exibições de domínio de "grande homem" que estavam documentadas em culturas mais estratificadas de Nova Guiné, por exemplo, por Andrew Strathern. Estas observações implicavam, realmente, como ela escreveu, um padrão cultural.

Quando Margaret Mead descreveu a sua investigação aos estudantes na Universidade de Columbia, expôs sucintamente quais haviam sido os objectivos e conclusões. Um relato de primeira mão de um antropólogo que estudou com Mead nos anos 1960 e anos 1970, forneceu a seguinte informação:

1. Citações de Mead no Sexo e Temperamento em Três Sociedades Primitivas.

"Ela explicou que ninguém conhecia em que grau o temperamento está biologicamente determinado pelo sexo, de modo que esperava ver se havia factores culturais ou sociais que afectassem o temperamento. Eram os homens inevitavelmente agressivos? Eram as mulheres inevitavelmente caseiras? Resultou que as três culturas com que conviveu na Nova Guiné eram um laboratório quase perfeito, pois encontravam-se cada uma das variáveis que associamos com masculino e feminino numa configuração diferente da da nossa sociedade. Ela disse que esse facto a havia surpreendido e que não era o que ela esperava encontrar, mas aconteceu.
Entre os Arapesh, tanto homens como mulheres eram de temperamento pacífico e nem os homens nem as mulheres faziam a guerra.
Entre os Mundugumor, a realidade era precisamente o contrário: tanto homens como mulheres eram de temperamento bélico.
E os Tchambuli eram diferentes dos dos anteriores. Os homens embonecavam-se e gastavam o tempo a arranjarem-se, enquanto as mulheres trabalhavam e eram práticas - o oposto do que parecia ser a América no início do século XX."

2. Citações de Mead no Crescendo na Nova Guiné.


"Margaret Mead contou-nos como chegou ao problema de investigação no qual baseou o Crescendo na Nova Guiné. Ela raciocinou assim: se os adultos primitivos pensam de uma forma animista, como Piaget diz que as nossas crianças o fazem, como pensam as crianças primitivas?

Na sua investigação na ilha de Manus da Nova Guiné, descobriu que as crianças 'primitivas' pensam de uma forma muito prática e começam a pensar em termos de espíritos à medida que vão crescendo."

BibliografiaAdolescência, sexo e cultura em Samoa (1928)
Crescendo na Nova Guiné (1930)
A cultura cambiante de uma tribo índia (1932)
Sexo e temperamento em três sociedades primitivas (1935)
Masculino e feminino (1949)
Novas vidas para o velho: transformação cultural em Manus, 1928-1953 (1956)
Gente e lugares (1959; um livro para leitores jovens)
Continuidades na evolução cultural (1564)
Cultura e compromisso (1970)
Inverno de amora (1972; um relato biográfico dos primeiros anos)

http://pt.wikipedia.org/wiki/Margaret_Mead

Antropologia do Direito

É uma área da antropologia social ou cultural (ou etnologia) voltada ao estudo das categorias que perpassam o saber jurídico: seus mecanismos de produção, reprodução e consumo.

Busca identificar, classificar e analisar as formas como se organiza o "campo" jurídico - entendendo-se, aqui, a noção de "campo", como a apresentada na sociologia de Pierre Bourdieu.
A Antropologia do Direito se ocupa do aspecto legal ou normativo das sociedades, abrangendo também a questão da justiça, como elementos interantes da organização social e cultural.

Define-se em alguns programas de pós-graduação acadêmica, como aquele gênero de "estudos comparativos de processos de resolução de conflitos, das relações de poder e de processos de formação de opinião política em contextos sócio-culturais específicos.
" Para Geertz  é preciso um esforço para não impregnar costumes sociais com significados jurídicos, nem para corrigir raciocínios jurídicos através de descobertas antropológicas e sim criar um ir e vir hermenêutico entre os dois campos, olhando primeiramente para uma direção e depois na outra, a fim de formular as questões morais, políticas e intelectuais que são importantes para ambos.

A antropologia do direito avançou com a pesquisa de campo proposta pelos cientistas que puseram de lado elocubrações teóricas sem base na observação e sistematização de dados empíricos. Assim como ocorreu nos demais ramos da antropologia cultural, a técnica de observação participante, utilizada na Antropologia do Direito de linha funcional, contribuiu para a explicitação do conceito de "transgressão e castigo", independentemente do conteúdo moral do comportamento desviante (Émile Durkheim), e contribuiu para a desmistificação da imagem do "bom selvagem" (Jean-Jacques Rousseau).

Para uma discussão sobre a Antropologia do Direito, sob uma ótica funcionalista, formulada a partir de pesquisas de campo, ver o trabalho pioneiro de Bronisław Malinowski em "Crime and Custom in Savage Society" (1926) e "Sex and Repression in Savage Society". Também recomendável: "Anthropology of Law", de Leopold Pospisil.

Origens e perspectiva
Podemos tomar como origem dessa proposição de interpolação e comparação, que os advogados chamam de "antropologia legal" e os antropólogos chama de "antropologia do direito", os trabalhos de Immanuel Kant (1724-1804) designados por ele mesmo de filosofia moral em três obras:

Fundamentação da metafísica dos costumes (1785),
Crítica da razão prática (1788)
e Metafísica dos costumes (1798).

Para Mauss em etnologia entende-se por "direito" ou sociologia jurídica e moral o que os anglo-saxões denominam de social antropolhogy abordando tantos os problemas morais com suas interfaces com os fenômenos econômicos e políticos, com os relativos à organização social.

Não se pode esquecer que a Antropologia jurídica do século XIX constituiu-se como mais instrumento de dominação e legitimação de valores etnocêntricos e diante da impossibilidade de construir uma teoria geral do direito (Geertz oc. p. 327) e do objetivo hermenêutico, que propõe a antropologia interpretativa de Geertz, que permeia a abordagem de todas as visões de mundo:
"a compreensão de ‘compreensões’ diferentes da nossa"

Antropologia forense
Antropologia forense é ramo da medicina legal que tem como principal objeto a identidade e identificação do ser humano.
Utiliza conhecimentos da antropologia geral, com clara importância na esfera penal.



Antropologia física forense
A antropologia física forense trata da identificação de restos humanos esqueletizados devido a sua grande relação com a biologia e a osteologia. Também examina, quando possível, as causas da morte, retratando e reconstituindo a cena da morte, através do exame dos ossos e das lesões, com o auxílio de criminalistas e médicos forenses.



http://pt.wikipedia.org/wiki/Antropologia_do_direito

Antropologia das Emoções

Antropologia das emoções é uma linha teórico-metodológica da Antropologia que lida com a categoria analítica emoção como objeto de análise.
Os estudos da emoção desde os finais do século XIX começo do século XX tem sido objeto de análise da psicologia e fisiologia.
Entre os primeiros estudos de caráter antropológico das emoções podemos incluir diversas obras de Sigmund Freud e Marcel Mauss

No Brasil, neste campo analítico o conceito de emoção é apreendido, segundo Guilherme Marques  como uma categoria "de entendimento capaz de apreender a noção de humano e de sociedade como um todo, e em sua obra discute as consequências metodológicas de uma pesquisa sobre emoção nas inter-relações sempre tensas entre indivíduo social e sociedade".

A Antropologia das emoções é uma linha analítica que, na atualidade, vem atraindo um número crescente de especialistas, pesquisadores, estudiosos e leitores no mundo e, no Brasil, em particular.
É, segundo o autor citado, enfim, um campo de reflexão que "tem procurado revigorar a análise (antropológica) introduzindo perspectivas novas e importantes da grande questão interna (das ciências sociais) em geral, (...) que é a problemática da intersubjetividade".

Darwin e Freud

Não há dúvidas que esses dois autores influenciaram o modo que o ocidente e a antropologia percebe e estudas as emoções humanas.

Charles Darwin em 1867 para pesquisa sobre a das emoções que faz parte do seu livro “A expressão das emoções no homem e nos animais elaborou um questionário que foi aplicado por homens letrados (missionários, naturalistas, cônsules e outros funcionários do governo inglês) para pesquisar as emoções através de expressões e gestos inatos (instintivos) ou adquiridos por convenção na infância.

Esse questionário, que segue abaixo, foi aplicado entre os seguintes povos (nas seguintes quantidades) entre os
aborígines da Austrália (13);
Maoris da Nova Zelandia (1);
Daiaques de Bornéu (1);
Malaios em Malaca (1);
China (1);
Índia (Bombain, Calcutá) e
Ceilão (3);
Cafres,
Fingos,
Abissínios
e nativos do Nilo na África do Norte (4);
Fueguinos (Terra do Fogo) na América do Sul (1);
Atnah,
Espiox (rio Nasse no Noroeste),
Tetons,
Grossventers,
Mandans,
Assinaboines (Oeste) da América do Norte (6).

1.Exprime-se a surpresa pelo arregalar dos olhos e da boca e pela elevação das sobrancelhas?

2.A vergonha produz enrubescimento, quando a cor da pele permite percebê-lo? Se sim, até onde este desce pelo corpo?

3.Quando um homem está indignado ou desafiador, ele franze o cenho, mantém a cabeça e o corpo erguidos, apruma os ombros e cerra os punhos?

4.Quando se concentra ou tenta resolver algum problema, ele franze o cenho ou enruga a pele debaixo das pálpebras inferiores?

5.Quando abatido, desce os cantos da boca e eleva a extremidade interna das sobrancelhas pela ação desse músculo que os franceses apelidaram de “músculo do sofrimento”? Nesse estado as sobrancelhas fazem-se levemente oblíquas, com um pequeno inchaço em sua extremidade medial; e o meio da testa fica enrugado, não em toda sua extensão, como quando se elevam as sobrancelhas exprimindo surpresa?

6.Quando satisfeito, brilham seus olhos, enruga-se a pela em volta destes e retraem-se os cantos da boca?

7.Quando um homem olha para outro com desprezo ou ironia, ergue-se o canto do lábio superior por sobre o canino do lado pelo qual ele o está encarando?

8.Pode uma expressão de obstinação e tenacidade ser reconhecida principalmente pela boca firmemente fechada, pelo cenho baixo e pelas sobrancelhas levemente franzidas?

9.O desdém é exprimido por uma leve protusão dos lábios e discreta expiração com o nariz empinado?

10.Manifesta-se o nojo virando o lábio inferior para baixo e elevando-se o lábio superior com uma súbita expiração, como um vomitar incipiente ou cuspir?

11.O medo extremo é expresso aproximadamente da mesma maneira que fazem os europeus?

12.O riso pode chegar ao extremo de fazer com que lacrimejem os olhos?

13.Quando um homem quer demonstrar que não pode impedir algo ou que ele mesmo não consegue fazer alguma coisa ele, encolhe os ombros, vira para dentro os cotovelos e estende as mãos para fora com as palmas abertas; e as sobrancelhas são erguidas?

14.As crianças quando emburradas, fazem bico ou contraem fortemente os lábios?

15.Expressões de culpa, malícia ou ciúme podem ser reconhecidas, ainda que não se consiga defini-las?

16.Balança-se a cabeça verticalmente na afirmação e horizontalmente na negação?

Recebeu trinta e seis respostas donde concluiu, a partir das informações adquiridas, que um mesmo estado de espírito exprime-se ao redor do mundo com impressionante uniformidade e assinala ainda que esse achado evidencia a grande similaridade da estrutura corporal e da conformação mental de todas as raças humanas. (Darwin, (1872) 2000)


Entre as obras de Sigmund Freud específicamente sobre emoções e cultura podemos destacar Totem e tabu (1913) onde analisa o tabu enquanto termo polinésio e o interpreta à luz da teoria psicanalítica enquanto ambivalência emocional dialogando inclusive com célebre criador da psicolgia Wilhelm Wundt (1832—1920).
Outro trabalho específico sobre a expressão e natureza da emoção, enquanto afeto ou sentimento que possui expressão fisológica e manifestações corporais de natureza social é Os chistes e sua relação com o inconsciente (1905). Contudo ao longo de sua obra discursa sobre vários aspectos da emoção humana a exemplo de Luto e melancolia (1917) um dos poucos trabalhos sobre a tristeza e depressão e dezenas de textos sobre a ansiedade e características do sofrimento humano na denominada doença mental.



http://pt.wikipedia.org/wiki/Antropologia_das_emo%C3%A7%C3%B5es

Religião e Dinheiro

O marco referencial da consolidação da sociologia da religião como campo autônomo de pesquisa no Brasil é a publicação da obra
"Católicos, Protestantes, Espíritas", de Cândido Procópio Ferreira de Camargo, em 1973.
Nomes de referência no Brasil:
Edison Carneiro,
Beatriz Muniz de Souza,
Antônio Flávio Pierucci,
Reginaldo Prandi

Do judaísmo ao cristianismo
Jacques Attali argumenta em Les Juifs, le Monde et l'Argent que com a chegada de Jesus Cristo e o posterior desenvolvimento do cristianismo há uma revolução na atitude perante o dinheiro.
Esta clivagem tem muito a ver com a mesma clivagem existente dentro do judaísmo ao tempo de Jesus entre
Saduceus (judeus estabelecidos, conservadores)
e Fariseus e Essênios (com uma atitude mais revolucionária, igualitária, ascética).

Se, para o judaísmo, possuir o dinheiro é uma forma de estar em posição de evitar a violência e de resolver possíveis problemas futuros, já para a nova religião nascente, o dinheiro é algo de sujo e problemático (a mesma atitude de algumas das facções do judaísmo mencionadas).

Nas palavras de Attali:

Paralelamente aprofundam-se as diferenças entre as duas doutrinas económicas.
Quer no Judaísmo como no Cristianismo acredita-se nas virtudes da caridade, da justiça e das ofertas.
Mas para os Judeus, é desejável ser rico,
enquanto que para os Cristãos é recomendado ser-se pobre.
Para uns, (os Judeus) a riqueza é um meio para melhor servir Deus; para os outros, (os Cristãos) ele impossibilita a salvação.
Para uns, o dinheiro pode ser um instrumento do bem;
para os outros os seus efeitos são sempre desastrosos.
Para uns, qualquer pessoa pode gozar do dinheiro bem ganho;
para os outros ele queima-lhe os dedos.
Para uns, morrer rico é uma bênção, desde que o dinheiro tenha sido adquirido moralmente e que se tenha cumprido com todos os deveres para com os pobres da comunidade;
para os outros, morrer pobre é uma condição necessária da salvação.

É assim que Mateus, escreve sobre Jesus:
“Digo-vos mais uma vez: é mais facil a um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que a um rico entrar para o céu” (19, 24).
E se Lucas conclui a parábola do intendente infiel por uma frase ambígua: Façam-se amigos do dinheiro da desonestidade (16, 11), ele acrescenta ainda “façam o bem e emprestem sem nada esperar em troca” (6,35).
De facto, como vimos, para os Judeus, receber juros do dinheiro não é imoral; e se não é permitido fazê-lo entre Judeus é por uma questão de solidariedade, e não por interdição moral.
O dinheiro é, como o gado, uma riqueza fértil e o tempo é um espaço a valorizar.
Pelo contrário, para os Cristãos, como para Aristóteles e os Gregos, o dinheiro, como o tempo, não produz em si qualquer riqueza, ele é estéril; e fazer comércio de dinheiro é um pecado mortal.
Esta obsessão pela esterilidade do dinheiro reenvia também para o ódio pela sexualidade, interdita fora do casamento.
Para a nova Igreja, nada deve ser fértil que não tenha sido criado por Deus. Fazer trabalhar o dinheiro é fornicar.
Sem dúvida é preciso ver nestas diferenças o traço de um conflito muito antigo entre essénios e saduceus, e o desejo dos apóstolos de ganhar o apoio dos mais pobres entre os Judeus.
As ofertas dos Judeus às suas comunidades são limitadas a um quinto das suas receitas.
Pelo contrário, encoraja-se os Cristãos a doar sem limites à Igreja.
Enquanto que as comunidades judaicas devem redistribuir integralmente estas doações aos pobres  a Igreja pode conservar o dinheiro, pelo menos em parte, para ela mesma a fim de de criar pelo esplendor as condições do assombro e da salvação dos homens.
Para ela, o dinheiro, que não produziria juros, pode produzir a graça se ele transitar pela Igreja.
Toda a potência eclesiástica do futuro advém desta reversão da relação com o dinheiro.
Mesmo se neste espírito, alguns teólogos do Cristianismo antigo como Clemente de Alexandria, glorificam uma ética económica muito semelhante à da moral do Pentateuco, os primeiros Cristãos encontram argumentos nestas passagens dos Evangelhos para apoiar a tese de que entre os Judeus tudo se mede em dinheiro, tudo se troca: mesmo o tempo, mesmo a carne humana, mesmo Deus! O Judeu, dizem eles, o qual vendeu o Messias por dinheiro, está pronto a tudo comprar e a tudo vender.
O mercado é a sua única lei.
O anti-judaísmo Cristão é imediatamente inseparável da condenação económica.

Citações cristãs anti-dinheiro

"Todo o homem rico é, ou injusto na sua pessoa, ou herdeiro da injustiça e da injustiça de outros" (Omnis dives aut iniquus est, aut heres iniqui) - São Jerónimo.
"Quem quer se tornar rico tomba nas armadilhas do demónio, e se entrega a mil desejos não apenas vãos mas perniciosos, que o precipitam por fim no abismo da perdição e da condenação eterna" São Timóteo, 6
"Ou tu és rico e tens o supérfluo, e nesse caso o supérfluo não é para ti mas para os pobres; ou então tu estás numa fortuna mediocre, e então que importa a ti procurar aquilo que não podes guardar ?" São Bernardo
"Mas a moral do evangelho vai ainda mais longe; porque ela nos ensina que quanto mais um cristão é rico, mais ele deve ser penitente; ou seja, mais ele se deve deduzir das doçuras da vida; e que estas grandes máximas de renúncia, de escrutínio, de desapego, de crucificação, tão necessárias à salvação, são muito maiores para ele do que para o pobre" Louis Bourdaloue, jesuíta francês do século XVII.
"E não podemos dizer também que quase todos os ricos são homens corruptos, ou antes, perdidos pela intemperança das paixões carnais que os dominam? Porquê ? Porque têm todos os meios do ser, e que não usam as suas riquezas que não seja para saciar as suas brutais avarices. Vítimas reservadas à cólera de Deus, engordados dos seus próprios bens! Quantos é que conheceis que não sejam assim ? Quantos é que vós conheceis que, na opulência, tenham aprendido a dominar o seu corpo e a o limitar em restrição ? Um rico continente ou penitente não será uma espécie de milagre ?", Louis Bourdaloue, jesuíta francês do século XVII.
"Uma virgem pode conceber, uma estéril pode dar à luz, um rico pode ser salvo: estes são três milagres nos quais as escrituras sagradas não nos ensinam outra coisa que não seja que Deus é omnipotente. Pois é verdade, ó rico do mundo, que a tua salvação não é nada fácil, ela seria impossível se Deus não fosse omnipotente. Consequentemente, esta dificuldade passa bem distante dos nossos pensamentos, já que é necessário, para a ultrapassar uma potência infinita. E não me digas que estas palavras não te dizem respeito porque talvez não sejas rico. Se não és rico, tu tens vontade de o ser; e estas maldições sobre a riqueza devem cair não tanto sobre os ricos mas sobretudo sobre aqueles que o desejam ser. É para esses que o apóstolo pronuncia, que eles caem na armadilha do diabo e de muitos desejos malvados, que precipitam o homem na perdição. ... Também o apóstolo tem razão quando diz que o desejo de riqueza é a raiz de todos os males; Radix omniumm malorum est cupiditas". Jacques Bénigne Bossuet (1627-1704), bispo, teólogo e escritor francês, sermão em Metz a 4 de Outubro de 1652.

Do catolicismo para o protestantismo - nova reversão
Jacques Attali vê com o advento da Reforma Protestante uma nova reversão na relação para com o dinheiro, repondo entre os protestantes do mundo ocidental (norte e oeste da Europa) o entendimento que os Judeus faziam do dinheiro.
Este regresso aos princípios económicos do Judaísmo caracteriza a sociedade moderna.

Attali acusa Max Weber de não ter reconhecido na ética que possibilitou o novo mundo dos negócios capitalistas, a ética judaica.
Attali escreve:
"Weber não vê que os Judeus inventaram a ética bem antes dos Gregos ou dos puritanos" ..." e que para eles (os Judeus) a actividade económica é um meio essencial de ir ter com Deus".


Bertrand Russel

Confirmando algumas destas ideias de Attali, encontramos um trecho de Bertrand Russel, em "Filosofia do Mundo Ocidental", no capítulo
"A política de Aristóteles":

Desde o tempo dos gregos até hoje, a Humanidade, ou pelo menos a parte economicamente mais desenvolvida dela se divide entre devedores e credores; os devedores são contra os juros e os credores são a favor. Quase sempre, os detentores de terras são devedores, enquanto que os comerciantes são credores.
Os filósofos, com poucas excepções, concordam com os interesses financeiros da sua classe.
Os filósofos Gregos pertencem à classe dos proprietários de terra ou trabalhavam ao seu serviço. Por isso, eles recusavam os juros.
Os filósofos da Idade Média eram homens da Igreja; o património da Igreja constituia-se sobretudo de terras; eles não viam pois razão para rever as ideias de Aristóteles.
A sua antipatia contra a usura foi ainda reforçada pelo Anti-semitismo, já que o capital fluido (ou seja em dinheiro, facilmente transmissível) estava em grande parte na posse de Judeus...
Com a Reforma Protestante, a situação muda. Muitos dos protestantes mais convictos eram comerciantes, para quem o empréstimo de dinheiro a juros era muito importante... Por isso, os juros foram aceites, primeiro por Calvino e depois por outros protestantes.
Finalmente, a Igreja Católica viu-se forçada a seguir o exemplo deles, já que as velhas proibições já não se enquadram no mundo moderno.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Sociologia_da_religi%C3%A3o

Antropologia e psicologia

A antropologia divide-se em antropologia cultural e antropologia física, cada uma destas com suas contribuições específicas para o estudo da mente e comportamento humano.
Em seu processo de construção abrigou diversas correntes de pensamento onde, como dito, as contribuições da psicanálise são relevantes.
Na antropologia cultural há de se considerar as aplicações da antropologia às emoções, saúde e à psicologia onde teoricamente, mas não sem conflitos, a psicanálise se insere.
Nessa última um ramo inquestionavelmente associado à psicanálise possui uma interface interdisciplinar com o segmento da antropologia que estuda a interação de processos simbólico-culturais e mentais ou cognitivos e uma área também comum à psicologia do desenvolvimento, que também analisa a forma como se realiza a socialização da criança dentro de um determinado grupo cultural. Essa interdiscplinariedade nos permite compreender melhor como a cultura modela a cognição humana, a percepção, ou a emoção, sexualidade, motivação e saúde mental.

Outras escolas da psicologia também possuem uma interface com a antropologia e disputam o domínio da ciência dos costumes da moral e da conduta humana, tal como compreendida antes do séc. XX, a saber por obras de Immanuel Kant, (1724 — 1804) e a persistência de algumas dessas concepções na esfera jurídica. Um bom exemplo, sem dúvida originado a partir das contribuições de Burrhus Frederic Skinner (1904 — 1990) é o esboço de uma antropologia comportamental proposta por Malott, Richard W. no seu artigo "Comportamento governado por regras e antropologia comportamental" (1988) a partir das contribuições de Marvin Harris (1907-2002) sobre o materialismo cultural  analisando os costumes indianos, o culto à vaca sagrada  e as regras de controle do comportamento, bem como os diversos tipos de contingências que as mantém.

Para Marcel Mauss, (1872-1950), praticamente o fundador da etnologia francesa, tanto a questão da independência relativa entre fatos de diversas ordens biológicas e psicológicas e fatos sociais como a relação entre os fatos psíquicos e fatos materiais da sociedade devem ser investigados.
Para esse autor os fenômenos psicológicos atuam como engrenagens (ainda não dimensionadas) entre o aparelho biológico / fisiológico e a ordem social. Entre as contribuições da sociologia que se distingue da psicologia coletiva por delimitar a morfologia (demográfica, estatística e histórica) do social em vez de lidar com abstração da coletividade, ou seja, da consciência (inspiração inconsciente) do grupo sem o seu substrato material e concreto.

Entre as principais contribuições das ciências sociais à psicologia segundo esse autor está a contextualização dos símbolos míticos e morais, um caminho já trilhado por Wilhelm Wundt (1832-1920) em sua Volkerpsychologie e pelo próprio Sigmund Freud (1856 – 1939) em ‘Totem e tabu’ como veremos em seguida, apesar das ressalvas contra esse último pela aproximação dos ritos e crenças à psicose.
A noção de psicose, segundo Mauss, é uma importante contribuição da psicologia às ciências sociais, esclarece alguns fenômenos coletivos como alucinações e sonhos coletivos associados ao fanatismo, vendeta em grupo, mitomania, loucura judiciária, alucinações do culto funerário etc. Destaca ainda como contribuições da psicologia às ciências sociais as noções de astenia e vigor mental, atividade simbólica e a noção de instinto

http://pt.wikipedia.org/wiki/Antropologia_e_psican%C3%A1lise

Antropologia e Psicanálise

Antropologia (do grego άνθρωπος, transl. anthropos, "homem", e λόγος, logos, "razão"/"pensamento") é a ciência que se ocupa em estudar o homem enquanto espécie primata e a humanidade ou seja seus símbolos e produtos culturais.
Uma ciência que conquistou seu lugar evoluindo de relatos de vivências e descrições de costumes feitas por viajantes, afirmando a necessidade da pesquisa de campo e aprofundamento do conjunto de descrições etnográficas (corpus etnograficos) de todos os povos do mundo que vinham se acumulando (Laplatine) .
Distinguindo-se da sociologia e da economia política as denominadas ciências humanas e mesmo da psicologia social enquanto ciência dos costumes e estilos de vida.
A antropologia dialoga com essas ciências afirmando seus próprios métodos e referencial teórico de diversas procedências.
A psicanálise se inclui entre as "psicologias", e em relação à antropologia deve-se considerar a via de mão dupla tanto desta para a antropologia como da antropologia para psicanálise.

A psicanálise, também, pode ser descrita como um procedimento especializado de psicoterapia, uma teoria da personalidade além de uma teoria da cultura ou filosofia sobre a natureza humana aonde residem suas maiores contribuições à antropologia.
Segundo Freud a psicanálise cresceu num campo muitíssimo restrito.
No início, tinha apenas um único objetivo — o de compreender algo da natureza daquilo que era conhecido como doenças nervosas ‘funcionais’, com vistas a superar a impotência que até então caracterizara seu tratamento médico e possuía desde o início a expectativa de participar do desenvolvimento cultural como um fermento significativo auxiliar ao aprofundamento de nosso conhecimento do mundo.


Perspectivas antropológicas
Ainda sobre a relação entre a vida mental dos selvagens e dos neuróticos é o referido antropólogo Levi-Strauss  que nos propõe que a comparação entre a psicanálise e a cura xamânica facilita o entendimento dessa última e considera a possibilidade do estudo do xamanismo, inversamente, vir a ser utilizado para elucidar pontos obscuros da teoria de Freud em especial as noções de mito e inconsciente.

A teoria da cultura como um conjunto de sistemas simbólicos, à frente dos quais situa-se a linguagem e as regras matrimoniais decerto permite uma aproximação desta com a teoria psicanalítica.
Contudo ainda segundo esse autor, a psicanálise a e análise estrutural divergem em um ponto essencial.
Ao longo de toda sua obra Freud oscila sem chegar a escolher – entre uma concepção realista e uma concepção relativista do símbolo.
Para a primeira cada símbolo teria uma significação única.
Poderiam listar-se todas as significações num dicionário, que como Freud sugere não seria muito diferente de uma “chave dos sonhos” menos no tamanho.
A outra concepção admite que a significação de um símbolo varia em cada caso particular e recorre às associações livres para a fixar.

De forma ainda ingênua e rudimentar, ele reconhece, portanto, que o símbolo tira sua significação do contexto, da sua relação com outros símbolos, que por sua vez só adquirem sentido relativamente a ele.

Esta segunda via pode ser fecunda, desde que a técnica simplista das associações livres ocupe o lugar que lhe compete num esforço global que visa reconstituir a história pessoal de cada sujeito, a do seu meio familiar e social, a sua cultura.... Procuraria assim compreender-se um indivíduo do modo como o etnógrafo procura compreender uma sociedade....

E o grande enigma permanece sendo o símbolo.

Jung nos chama atenção que o uso consciente que fazemos do símbolo é apenas um aspecto de um fato psicológico de grande importância:
o homem também produz símbolos, inconsciente e espontaneamente, na forma de sonhos e que há um limite de evidências e de convicções que o conhecimento consciente não pode transpor.
Essa é a característica universal onde a psicanálise tenta se situar como um mito moderno a unidade comum a todas as culturas que Jung designa como inconsciente coletivo e que tenta atingir segundo Lévi-Strauss depressa demais ignorando os aspectos morfológicos, estatísticos e históricos dos grupos que elaboram os sistemas culturais no dizer de Mauss (o.c.)

Ainda na perspectiva das contribuições que a antropologia pode trazer à psicanálise situam-se as questões de caracterizar o próprio saber e fazer da psicanálise, a relação de Freud com a cultura e sabedoria alemã, em especial com a Viena de sua época  além do que já foi mais amplamente discutido, sua relação com a cultura judaica.
Sobre essa última questão vale citar a observação feita pelo próprio Freud  no prefácio de Totem e tabu para língua hebraica... um livro que trata da origem da religião e da moralidade, embora não adote um ponto de vista judaico e não faça exceções em favor do povo judeu.
O autor espera, contudo, estar de acordo com seus leitores na convicção de que a ciência sem preconceitos não pode permanecer estranha ao espírito do novo judaísmo que algum dia, sem dúvida, se tornará acessível ao espírito científico.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Antropologia_e_psican%C3%A1lise

Antroplogia da Saúde

Antropologia da Saúde ou Antropologia Médica corresponde a uma especialização ou aplicação da antropologia ao estudo do comportamento humano para obtenção e manutenção da saúde através de práticas culturais. Naturalmente, trata-se de uma divisão com fins didáticos pois não há como isolar um “fato” social do seu contexto ou realidade construída pelas sociedades humanas com sua linguagem e cultura característica.

Tal ciência aplicada pode ser melhor compreendida tanto pela análise da produção de trabalhos produzidos por antropólogos e demais cientistas sociais como pela especificidades da área de aplicação e suas interfaces com demais ramos do conhecimento.

A antropologia da saúde pode se distinguir da antropologia médica se considerarmos que essa última se detém no estudo das racionalidades médicas, e no estudo das patologias e sistemas terapêuticos – a medicina, tal como conhecemos em nossa sociedade estabelecendo limites difusos com a antropologia biológica e antropologia física ou pode se deter no conceito ampliado de saúde tal como desenvolvido pela medicina social, epidemiologia e estudo da saúde pública.

Para François Laplantine, o autor de Antropologia da doença, esta ciência estuda a percepção e resposta de um grupo social à patologia, elabora e analisa modelos etiológicos e terapêuticos.
Um modelo é: uma construção teórica, caráter operatório (hipótese) e também uma construção metacultural, ou seja, que visa fazer surgir e analisar as formas elementares da doença e da cura - sua estrutura seus invariantes tornando-o comparável a outros sistemas (Laplatine).

Outra contribuição relevante de nossos dias vieram de Arthur Kleinman. Segundo esse autor, observando-se a trajetória de pacientes e curadores no contexto cultural distingue-se na organização social o sistema cultural de cuidados de saúde (Health Care System) correspondendo a estas práticas:
o setor ou medicina popular / familiar, conhecida e praticada por todos; a medicina tradicional, que exige um especialista formador – a relação mestre/ discípulo e finalmente o setor médico profissional que se caracteriza-se por possuir escolas formais e hegemonia social. (Kleinman apud Uchoa; Vidal e Currer).

A esses setores correspondem modelos explicativos dos profissionais e dos pacientes e suas famílias, alguns autores que a interação de tais símbolos em uma rede semântica corresponde à construção de realidades médicas que conjugam, normas, valores, expectativas individuais e coletivas, comportamentos ou formas específicas de pensar e agir em relação à doença e saúde. (Uchoa; Vidal)

Uma outra maneira de entender as regras e técnicas e rituais que emergem da vida prática de distintas sociedades (incluindo a nossa) é sua abordagem enquanto processo cognitivo (epistéme) ou racionalidades.

Racionalidade médica, na terminologia proposta por Luz (1988), essencialmente útil para quem pretende comparar elementos (o que é uma exigência do método estrutural).
Segundo essa autora, uma racionalidade médica ou sistema lógico e teoricamente estruturado, tem como condição necessária e suficiente para ser considerado como tal, a presença dos seguintes elementos:

Uma morfologia (concepção anatômica);
Uma dinâmica vital ("fisiologia");
Um sistema de diagnósticos;
Um sistema de intervenções terapêuticas;
Uma doutrina médica (cosmologia).

Assim como a própria antropologia, tais estudos se iniciaram com as descrições etnográficas do século XIX, assim temos descrições do xamanismo, e das “medicinas tradicionais” e “medicinas populares”.

Entre as proposições teóricas do começo do século XX destacamos as contribuições de
Marcel Mauss (1872 – 1950) em especial a criação da noção de técnica do corpo, entendendo o corpo humano como o primeiro e mais natural instrumento do homem nos permitindo comparar as intervenções obstétricas, cuidados de puericultura, higiene, sexualidade etc. e as distinções que faz entre magia, religião situando a prática dos curandeiros, analisando o poder dos enfeitiçamentos e crenças incluindo as célebres descrições de “morte sugerida” ou induzida por feitiçaria na Austrália e Nova Zelândia fenômeno psicossomático posteriormente estudado pelo fisiologista Cannon W. B. (1942) nas suas descrições da relação cérebro - emoção.

As práticas mágicas e simpatias em seus aspectos sociais e psicológicos estão entre os objetos de estudo de Mauss, que mais produziram ecos e até hoje permanecem na lista de interesses do antropólogo voltado para as questões do processo saúde – doença, repleto de excelentes descrições obras clássicas com “Bruxarias, Oráculos e Magia entre os Azande” de E. E. Evans-Pritchard com sua cuidadosa descrição da farmacopéia mágica e outras características religioso-étnicas desses povos da África Central ou “Pensamento Selvagem” de Claude Levi-Strauss, que nos propõe um caminho da compreensão do pensamento mágico e mitologia a partir da comparação das “operações” deste com o pensamento científico delimitando suas relações com a intuição sensível, predominante nas analogias do primeiro, e com a percepção – observação na lógica do pensamento científico.

Também é objeto da antropologia médica o modo como se formam os distintos agentes de cura, o modo como estes modificam a realidade institucional/ cultural em distintos países e organizações sócio-econômicas e o modo como se produzem e distribuem (consomem) ações e serviços de saúde, aliás a OMS, Organização Mundial de Saúde, tem estimulado desde sua fundação a associação das medicinas tradicionais à prestação de serviços primários de saúde a exemplo da bem sucedida criação dos médicos de pés descalços na China.

Antropologia da Saúde no Brasil
Pesquisas sobre as contribuições da antropologia à Medicina, Fisioterapia, Psicologia / Psicanálise, Enfermagem, Odontologia e outras áreas da saúde em estudos específicos sobre essa produção em periódicos e congressos científicos nos revelam que o Brasil, centenas de estudos exploram as relações entre saúde, doença e cura na religiosidade popular, nos sistemas etnomédicos indígenas e religiões - medicinas de matriz africana (candomblés e práticas médico religiosas de afro-descendentes) versam sobre representações do corpo e cuidados corporais, categorias de alimentação, condições de vida da classe trabalhadora, saúde mental e mesmo sobre as práticas médicas alternativas ou complementares.

Os estudos mais antigos tentam relacionar as práticas populares (folclore) às tradições formadoras de nossa cultura, analisando inicialmente segmentos étnicos e a cultura no meio rural e os estudos mais recentes, voltam-se para o meio urbano e as distintas classes sociais que caracterizam os conflitos da sociedade capitalista em transformação.
As pesquisas mais recentes tendem a integrar as teorias que dão conta dos dados etnográficos (o particular) ao processo socioeconômico e cultural mais amplo (o geral) (Canesqui, 94; Queiroz; Canesqui, 86).

http://pt.wikipedia.org/wiki/Antropologia_da_sa%C3%BAde

Antropologia visual

A Antropologia visual (por vezes designada Antropologia da imagem ou Antropologia visual e da imagem) é um ramo da antropologia cultural, aplicada ao estudo e produção de imagens, nas áreas da fotografia, do cinema ou, desde os meados dos anos 1990, nos novos ‘’media’’ utilizados em etnografia.
A antropologia cultural, a par da antropologia física (estudo do Homem biológico e da sua evolução , é uma bifurcação da antropologia, enquanto ciência geral do Homem.

Envolve também o conceito o estudo antropológico da representação visual, no ritual, no espetáculo, no museu, na arte ou na produção ou recepção dos meios de comunicação de massa, os media.
Aplica-se a designação para exprimir a ideia de observação do real pela imagem, tida como mais “fiel” do que a palavra ou o discurso, ou como prova objectiva de determinado evento ou realidade.

É precursor da antropologia visual Spencer Poch, que utiliza pela primeira vez a máquina de filmar nas suas expedições na África, retratando os hábitos de aborígenes para a criação de arquivos na Alemanha, notando ele, pela primeira vez também, as distorções de comportamento das pessoas representadas, distorções essas derivadas da simples presença e uso dessa ferramenta, a câmara.
Cultivam a antropologia visual, cada um a seu modo,
Robert Flaherty (cineasta e não cientista, mas inspirador do movimento), Margaret Mead,
Gregory Bateson (Trance and Dance in Bali) (artigo em inglês),
Marcel Griaulle (artigo em inglês),
Jean Rouch, este numa perspectiva menos convencional, misturando documentário e ficção em muitas das obras etno-cinematográficas que realiza, abrindo novas portas à pesquisa antropológicas e à modernidade do cinema.
Há imagens (sempre as houve) em que o real se transfigura em arte, ao pôr a nu a beleza da verdade.

No fundo, o conceito de antropologia visual, embora se restrinja às aplicações que se usam nos métodos da ciência, no sentido lato é uma uma questão central que surgiu desde que o Homem é homem : no momento em que resolveu representar-se a si próprio pela imagem.


Objectos de estudo
a realidade- "o real"
o conteúdo da imagem

o olho
a percepção visual

a análise da imagem
a interpretação da imagem
a ideia que ela dá


http://pt.wikipedia.org/wiki/Antropologia_da_imagem

Antropologia da arte

É o estudo das características dos objetos e produções consideradas artísticas que o homem produz na sociedade em cada época, levando em conta que a Antropologia pode ser entendida como o estudo do homem, suas atividades, sua cultura em um determinado momento histórico apesar de ter se inciado com o estudo dos povos considerados primitivos e supostamentes pré-historicos pelas teorias evolucionistas da época inspiradas na obra de Morgan (1818 – 1881).

Antropologia da arte é uma interface da antropologia com outras disciplinas científicas pois, geral engloba uma série de recursos e temas, físicos (materiais e técnicas), fisiológicos, psicológicos, estéticos, culturais, entre outros.

Para Franz Boas (1858-1942), um dos críticos do evolucionismo, pioneiro das idéias sobre igualdade racial e etnocentrismo.
Esse antropólogo conduziu muitos estudos de campo das artes primitivas – título de um dos mais importantes livros sobre esse tema (Primitive Art,1927). Primitivo corresponde a arte estilizada das sociedades sem escrita um fenômeno determinado pela tradição.
Segundo Almeida  o objetivo de Boas era, justamente, demonstrar a pluralidade de processos históricos e psicológicos abarcados pelo termo.
A variabilidade cultural do campo artístico.
Destacava a importância do estudo do método histórico ou entendimento fenômeno cultural como resultante de acontecimentos históricos e a identificação da unidade fundamental dos processos mentais em todas as raças e culturas.

Classificação da arte
Somente para fins didáticos podemos dividir a aplicação da antropologia nas diversas áreas da nossa estética ocidental ou seja: artes plásticas, literatura, música (etnomusicologia), dança, teatro etc.
Em relação às artes comparadas antropólogo Claude Lévi-Strauss chama atenção ao uso abusivo que se fez desse artifício exclusivamente para provar contatos culturais, fenômenos de difusão e empréstimos.

O crítico e historiador da arte alemão Erwin Panofsky (1892 - 1968), fazia distinção entre iconografia e iconologia.
Definiu
iconografia como o estudo tema ou assunto,
e iconologia o estudo do significado.
Esse autor demonstra como o esquema perceptivo de cada cultura ou época histórica é único e como cada qual dá destaque a uma diferente mas igualmente plena visão do mundo.

Segundo Almeida (op.c.) há uma concordância entre Boas e Panofsky quando esse último o destaca a relevância dos estudos de iconografia, e afirma que, "quanto mais a proporção de ênfase na 'idéia' ou 'forma' se aproxima de um estado de equilíbrio, mais a obra revelará o que se chama 'conteúdo'".
De fato, em sentido análogo, Boas assevera que ‘quanto mais firme a associação entre uma forma e uma idéia definida, mais estreitamente se estabelece o caráter expressionista da arte’.

Textos e tradições
A maioria das culturas e etnias baseiam-se na transmissão de conhecimentos através das gerações através da fala, contudo há muito da literatura e criação literária que possuí referências ao saber dos povos iletrados e considerados primitivos, apesar das censuras, mutilações (adaptações interpretativas de distintas modas estéticas) e de díficilmente reconhecerem essa influência.

A própria antropologia é a ciência que tomou como objeto as formas de expressão narrativa desses povos, nos estudos do folclore e mitologia atualmente melhor definidos como formas de conhecimento ou sistemas mítico-religiosos.

Destacam-se como pioneiros nesse campo os trabalhos de
James Frazer (1854 -1941) publicado como (o Ramo dourado; um estudo sobre magia e religião)
Irmãos Grimm, Jacob Ludwig (1785 -1863) e Wilhelm Karl (1786 - 1859) embora esses últimos tenham se tornado célebres por suas lendas fábulas para crianças sendo pouco conhecidos por suas contribuições à história e lingüística baseado-se no trabalho de campo recolhendo as antigas narrativas, lendas ou sagas germânicas, conservadas pela tradição oral de distintas regiões.

De acordo com Risério não há povo que não ostente, no elenco dos seus signos mais expressivos, objetos de linguagem correspondentes ao que, em nosso mundo, chamamos poesia.
Mas essa constatação, trazendo aos olhos de sábios ocidentais espécimes poéticos de povos antigos ou “primitivos”, acabou gerando uma febre de busca das origens.
Risério, observa ainda que por mais que se esforcem para tentar nos convencer do contrário, esses eruditos que estudam as “formas elementares” da poesia alimentam, de modo praticamente unânime, um sonho impossível.
Querem fixar a morfologia do que teria sido a poesia primeira da humanidade – a célula original do texto criativo.
Sustentando esse desejo nem sempre confessado (e às vezes nem sequer admitido) vamos encontrar uma visão evolucionista – ainda que um evolucionismo mitigado ou mal disfarçado – da aventura cultural da humanidade: a poesia como os povos, teria tido uma infância.

O texto criativo explica esse autor utilizando as ferramentas conceituais de Max Bense (1910 - 1990) e Yuri Lotman (1922 - 1993) não é algo que se faz na linguagem, mas com a linguagem.
Pertence por isso mesmo aos “sistemas modelizantes secundários” rubrica sob a qual os semioticistas russos agrupam as estruturas de comunicação que se sobrepõem ao nível lingüístico natural.
Uma segunda linguagem no dizer de Julia Kristeva sobre o sentido que há na fala proposto pela psicanálise (1941) análoga ao discurso como proposto Émile Benveniste (1902 - 1976) e não tão formalizados quantos os gêneros literários.
Observe-se que na perespectiva da antropologia da arte o estudo da linguagem e mitos aproxima-se mais da estética que que da interpretação da cultura ou sistemas de organização social reconhecendo entretando o caráter indissociável desta relação.


http://pt.wikipedia.org/wiki/Antropologia_da_arte

A antropologia interpretativa

Com cerca de vinte livros publicados, Clifford Geertz é provavelmente, depois de Claude Lévi-Strauss, o antropólogo cujas ideias causaram maior impacto na segunda metade do século XX, não apenas no que se refere à própria teoria e à prática antropológica mas também fora de sua área, em disciplinas como a psicologia, a história e a teoria literária.
Considerado o fundador de uma das vertentes da antropologia contemporânea -
a chamada Antropologia Hermenêutica ou Interpretativa.

Geertz, graduado em filosofia, inglês, antes de migrar para o debate antropológico, obteve seu PhD em Antropologia em 1956 e desde então conduziu extensas pesquisas de campo, nas quais se fundamentam seus livros, escritos essencialmente sob a forma de ensaio.
As suas principais pesquisas foram feitas na Indonésia e em Marrocos. Desiludiu-se com a metodologia antropológica, para Geertz excessivamente abstrata e de certa forma distanciada da realidade encontrada no campo, o que o levou a elaborar um método novo de análise das informações obtidas entre as sociedades que estudava.
Seu primeiro estudo tinha por objetivo entender a religião em Java.

Por fim foi incapaz de se restringir a apenas um aspecto daquela sociedade, que ele achava que não poder ser extirpado e analisado separadamente do resto, desconsiderando, entre outras coisas, a própria passagem do tempo.
Foi assim que ele chegou ao que depois foi apelidada de antropologia hermenêutica.
Sua tese começa defendendo o estudo de
"quem as pessoas de determinada formação cultural acham que são, o que elas fazem e por que razões elas creem que fazem o que fazem".
Uma das metáforas preferidas de Geertz, para definir o que fará a Antropologia Interpretativa, é a leitura das sociedades enquanto textos ou como análogas a textos.
A interpretação ocorre em todos os momentos do estudo, da leitura do "texto", pleno de significado, que é a sociedade na escrita do texto/ensaio do antropólogo, por sua vez interpretado por aqueles que não passaram pelas experiências do autor do texto escrito.
Todos os elementos da cultura analisada devem portanto ser entendidos à luz desta textualidade, imanente à realidade cultural.

Ideias centrais
A Antropologia Interpretativa analisa a cultura como hierarquia de significados, pretendendo que a etnografia seja uma "descrição densa", de interpretação escrita e cuja análise é possível por meio de uma inspiração hermenêutica.
É crucial a leitura da leitura que os "nativos" fazem de sua própria cultura.


Clifford James Geertz (São Francisco, 23 de agosto de 1926 — Filadélfia, 30 de outubro de 2006) foi um antropólogo estadunidense, professor da Universidade de Princeton em Nova Jérsei.


Geertz concordava com a idéia de Levi-Strauss de abordagem etnocêntrica (que o antropólogo estruturalista via como algo positivo) no estudo da área. Segundo Geertz, o risco do etnocentrismo é de aprisionar o ser humano em sua interpretação pessoal.
Geertz afirmou que o problema humano no estudo antropológico não é de estranhar o outro, mas de estranhar a si mesmo, e ele aconselhava os estudiosos a se conhecerem melhor antes de analisarem outras sociedades.

Algumas Obras
"A Interpretação das Culturas"
"Negara. The theatre-state in Bali"
"O Saber Local"
"Obras e Vidas"
"Nova Luz Sobre a Antropologia".
Observando o Islã - 1968 Ed. brasileira 2004
A interpretação das culturas - 1973. Ed. brasileira 1979 (condensada)
Saber local - 1983 Ed. brasileira 2004
Nova Luz Sobre a Antropologia - 2000 Ed. brasileira 2001

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segunda-feira, 21 de março de 2011

A antropologia estrutural

A Antropologia estrutural nasce na década de 1940.
O seu grande teórico é Claude Lévi-Strauss.
Centraliza o debate na ideia de que existem regras estruturantes das culturas na mente humana, e assume que estas regras constroem pares de oposição para organizar o sentido.

Para fundamentar o debate teórico, Lévi-Strauss recorre a duas fontes principais:
a corrente psicológica criada por Wilhelm Wundt
e o trabalho realizado no campo da linguística, por Ferdinand de Saussure, denominado Estruturalismo.
Influenciaram-no, ainda,
Durkheim, Jakobson (teoria linguística),
Kant (idealismo)
e Marcel Mauss.

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A antropologia funcionalista

O Funcionalismo inspirava-se na obra de Durkheim.
Advogava um estreito paralelismo entre as sociedades humanas e os organismos biológicos (na forma de evolução e conservação) porque em ambos os casos a harmonia dependeria da inter-dependência funcional das partes.
As funções eram analisadas como obrigações, nas relações sociais.
A função sustentaria a estrutura social, permitindo a coesão, fundamental, dentro de um sistema de relações sociais.

Representantes e principais obras

Bronislaw Malinowski, Os Argonautas do Pacífico Ocidental - 1922.
Bronislaw Malinowski, Uma teoria científica da cultura
Radcliffe Brown, Estrutura e função na sociedade primitiva - 1952
e Sistemas Políticos Africanos de Parentesco e Casamento, org. c/ Daryll Forde - 1950.
Evans-Pritchard Bruxaria, oráculos e magia entre os Azande - 1937
e Os Nuer - 1940.
Raymond Firth Nós, os Tikopia - 1936 (We, The Tikopia)
e Elementos de organização social - 1951.
Max Glukman Ordem e rebelião na África tribal - 1963.
Victor Turner Cisma e continuidade em uma sociedade africana - (Schism and Continuity in an African Society: A Study of Ndembu Village Life) 1957 Ed. brasileira 2005, EDUFF; O processo ritual - 1969.
Edmund Leach - Sistemas políticos da Alta Birmânia (Political Sistems of Highland Burma: A Study of Kachin Social Structure) - 1954. Ed. brasileira 1996, EDUSP.

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O surgimento da "linhagem francesa"

Com Émile Durkheim começam os fenómenos sociais a serem definidos como objetos de investigação sócio-antropológica e, a partir da análise da publicação de Regras do "Método Sociológico", em 1895, começa-se a pensar que os fatos sociais seriam muito mais complexos do que se pretendia até então.
No final do século XIX, juntamente com Marcel Mauss, Durkheim se debruça nas representações primitivas, estudo que culminará na obra
"Algumas formas primitivas de classificação", publicada em 1901. Inaugura-se então a denominada "linhagem francesa" na Antropologia.

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A antropologia difusionista

A Antropologia Difusionista reagiu ao evolucionismo e foi sua contemporânea.
Privilegiava o entendimento da natureza da cultura, em termos de origem e extensão, de uma sociedade a outra.
Para os difusionistas, o empréstimo cultural seria um mecanismo fundamental de evolução cultural.
O difusionismo acreditava que as diferenças e semelhanças culturais eram consequência da tendência humana para imitar e a absorver traços culturais, como se a humanidade possuísse uma "unidade psíquica", tal como defendia Bastian.

Representantes e obrasFriedrich Ratzel
Grafton Elliot Smith
William James Perry
William H. R. Rivers
Fritz Graebner - Methode del Ethnologie, 1891
Fr. Wilhelm Schmidt, fundador da revista Anthropos


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A antropologia evolucionista

Marcada pela discussão evolucionista, a antropologia do Século XIX privilegiou o Darwinismo Social, que considerava a sociedade europeia da época como o apogeu de um processo evolucionário, em que as sociedades aborígines eram tidas como exemplares "mais primitivos".

Esta visão usava o conceito de "civilização" para classificar, julgar e, posteriormente, justificar o domínio de outros povos.

Esta maneira de ver o mundo a partir do conceito civilizacional de superior, ignorando as diferenças em relação aos povos tidos como inferiores, recebe o nome de etnocentrismo.

É a «Visão Etnocêntrica», o conceito europeu do homem que se atribui o valor de "civilizado", fazendo crer que os outros povos, como os das Ilhas da Oceania estavam "situados fora da história e da cultura".
Esta afirmação está muito presente nos escritos de Pauw e Hegel.

Método
O método concentrava-se numa incansável comparação de dados, retirados das sociedades e de seus contextos sociais, classificados de acordo com o tipo (religioso, de parentesco, etc), determinado pelo pesquisador, dados que lhe serviriam para comparar as sociedades entre si, fixando-as num estágio específico, inscrevendo estas experiências numa abordagem linear, diacrônica, de modo a que todo costume representasse uma etapa numa escala evolutiva, como se o próprio costume tivesse a finalidade de auxiliar esta evolução. Entendiam os evolucionistas que os costumes se demarcavam como substância, como finalidade, origem, individualidade e não como um elemento do tecido social, interdependente de seu contexto.

Pensadores
Vale ressaltar que apesar da maior parte dos evolucionistas terem trabalhado em gabinetes, um dos mais conhecidos pensadores dessa corrente, Lewis Henry Morgan, tinha contato com diversas tribos do norte dos Estados Unidos.
É absurdo creditar a autores dessa corrente uma compilações cega das culturas humanas, isso seria uma simplificação enorme, ao mesmo tempo que se deixaria de aproveitar esses estudos clássicos da antropologia. e separado por muito tempo.


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História da Antropologia

A construção do olhar antropológico e seus principais debates. Embora a grande maioria dos autores concorde que a antropologia se tenha definido enquanto disciplina só depois da revolução Iluminista, a partir de um debate mais claro acerca de objeto e método, as origens do saber antropológico remontam à Antiguidade Clássica, atravessando séculos. Enquanto o ser humano pensou sobre si mesmo e sobre sua relação com "o outro", pensou antropologicamente. A Antropologia é o estudo do homem como ser biológico, social e cultural. Sendo cada uma destas dimensões por si só muito ampla, o conhecimento antropológico geralmente é organizado em áreas que indicam uma escolha prévia de certos aspectos a serem privilegiados como a “Antropologia Física ou Biológica” (aspectos genéticos e biológicos do homem), “Antropologia Social” (organização social e política, parentesco, instituições sociais), “Antropologia Cultural” (sistemas simbólicos, religião, comportamento) e “Arqueologia” (condições de existência dos grupos humanos desaparecidos). Além disso podemos utilizar termos como Antropologia, Etnologia e Etnografia para distinguir diferentes níveis de análise ou tradições acadêmicas.

Para o antropólogo Claude Lévi-Strauss (1970:377) a etnografia corresponde “aos primeiros estágios da pesquisa: observação e descrição, trabalho de campo”. A etnologia, com relação à etnografia, seria “um primeiro passo em direção à síntese” e a antropologia “uma segunda e última etapa da síntese, tomando por base as conclusões da etnografia e da etnologia”.

Qualquer que seja a definição adotada é possível entender a antropologia como uma forma de conhecimento sobre a diversidade cultural, isto é, a busca de respostas para entendermos o que somos a partir do espelho fornecido pelo “Outro”; uma maneira de se situar na fronteira de vários mundos sociais e culturais, abrindo janelas entre eles, através das quais podemos alargar nossas possibilidades de sentir, agir e refletir sobre o que, afinal de contas, nos torna seres singulares, humanos.


Primórdios
Homero, Hesíodo e os Filósofos Pré-socráticos já se questionavam a respeito do impacto das relações sociais sobre o comportamento humano;
Ou vendo este impacto como consequência dos caprichos dos deuses, como enumera
a Odisseia de Homero
e a Teogonia de Hesíodo,
Ou como construções racionais, valorizando muito mais a apreensão da realidade no dia a dia da experiência humana, como preferiam os Filósofos Pré-socráticos.
Foi, sem dúvida, na Antiguidade Clássica que a "medida Humana" se evidenciou como centro da discussão acerca do mundo.
Os gregos deixaram inúmeros registros e relatos acerca de culturas diferentes das suas, assim como os chineses e os romanos. Nestes textos nascia, por assim dizer, a Antropologia, e no século V a.C. um exemplo disto se revela na obra de Heródoto, que descreveu minuciosamente as culturas com as quais seu povo se relacionava.
Da contribuição grega fazem parte também as obras de
Aristóteles (acerca das cidades gregas)
e as de Xenofonte (a respeito da Índia).

Entre os romanos merece destaque o poeta Lucrécio, que tentou investigar as origens da religião, das artes e se ocupou da discurso.
Outro romano, Tácito analisou a vida das tribos germânicas, baseando-se nos relatos dos soldados e viajantes.
Salienta o vigor dos germanos em contraste com os romanos da sua época. Agostinho, um dos pilares teológicos do Catolicismo, descreveu as civilizações greco-romanas "pagãs", vistas como moralmente "inferiores" às sociedades cristianizadas.
Em sua obra já discutia, de maneira pouco elaborada, a possibilidade do "tabu do incesto" funcionar como norma social, garantia da coesão da sociedade.
É importante salientar que Agostinho, no entanto, privilegiou explicações sobrenaturais para a vida sociocultural.

Embora não existisse como disciplina específica, o saber antropológico participou das discussões da Filosofia, ao longo dos séculos.
Durante a Idade Média muitos escritos contribuíram para a formação de um pensamento racional, aplicado ao estudo da experiência humana, como fez o administrador francês Jean Bodin, estudioso dos costumes dos povos conquistados, que buscava, em sua análise, explicações para as dificuldades que os franceses tinham em administrar esses povos.
Com o advento do movimento iluminista, este saber foi estruturado em dois núcleos analíticos:
a Antropologia Biológica (ou Física), de modo geral considerada ciência natural,
e a Antropologia Cultural, classificada como ciência social.


O século XVIIIAté o século XVIII 
O saber antropológico esteve presente na contribuição dos cronistas, viajantes, soldados, missionários e comerciantes que discutiam, em relação aos povos que conheciam, a maneira como estes viviam a sua
condição humana,
cultivavam seus hábitos,
normas,
características,
interpretavam os seus mitos,
os seus rituais,
a sua linguagem.

Só no século XVIII, a Antropologia adquire a categoria de ciência, partindo das classificações de Carlos Lineu e tendo como objeto a análise das "raças humanas".

O legado desta época foram os textos que descreviam as terras, a (Fauna, a Flora, a Topografia) e os povos "descobertos" (Hábitos e Crenças).
Algumas obras que falavam dos indígenas brasileiros, por exemplo, foram:

a carta de Pero Vaz de Caminha ("Carta do Descobrimento do Brasil"),
os relatos de Hans Staden, "Duas Viagens ao Brasil",
os registros de Jean de Léry, a "Viagem a Terra do Brasil",
e a obra de Jean Baptiste Debret, a "Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil. Além destas, outras obras falavam ainda das terras recém-descobertas, como a carta de Colombo aos Reis Católicos.
Toda esta produção escrita levantou uma grande polémica acerca dos indígenas.
A contribuição dos missionários jesuítas na América (como Bartolomeu de Las Casas e Padre Acosta) ajudaram a desenvolver a denominada
"teoria do bom selvagem", que via os índios como detentores de uma natureza moral pura, modelo que devia ser assimilado pelos ocidentais.
Esta teoria defendia a ideia de que cultura mais próxima do estado "natural" serviria de remédio aos males da civilização.


O século XIX
Por volta de 1840, Boucher de Perthes utiliza o termo homem pré-histórico para discutir como seria sua vida cotidiana, a partir de achados arqueológicos, como utensílios de pedra, cuja idade se estimava bastante remota. Posteriormente, em 1865, John Lubock reavaliou numerosos dados acerca da Cultura da Idade da Pedra e compilou uma classificação em que enumerava as diferenças culturais entre o Paleolítico e Neolítico.

Com a publicação de dois livros, A Origem das Espécies, em 1859
e A descendência do homem, em 1871, Charles Darwin principia a sistematização da teoria evolucionista.
Partindo da discussão trazida à tona por estes pesquisadores, nascia a Antropologia Biológica ou Antropologia Física

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Antropologia

Definição, divisões, campo e objeto de estudo


(do grego άνθρωπος, transl. anthropos, "homem", e λόγος, logos, "razão"/"pensamento").
É a ciência que tem como objeto o estudo sobre o homem e a humanidade de maneira totalizante, ou seja, abrangendo todas as suas dimensões.
A divisão clássica da Antropologia distingue a
Antropologia Cultural
da Antropologia Biológica.
Cada uma destas, em sua construção abrigou diversas correntes de pensamento.

Pode-se afirmar que há poucas décadas a antropologia conquistou seu lugar entre as ciências.
Primeiramente, foi considerada como a história natural e física do homem e do seu processo evolutivo, no espaço e no tempo.
Se por um lado essa concepção vinha satisfazer o significado literal da palavra, por outro restringia o seu campo de estudo às características do homem físico. Essa postura marcou e limitou os estudos antropológicos por largo tempo, privilegiando a antropometria, ciência que trata das mensurações do homem fóssil e do homem vivo.


A Antropologia, sendo a ciência da humanidade e da cultura, tem um campo de investigação extremamente vasto: abrange, no espaço, toda a terra habitada; no tempo, pelo menos dois milhões de anos e todas as populações socialmente organizadas.
Divide-se em duas grandes áreas de estudo, com objetivos definidos e interesses teóricos próprios: a Antropologia Física (ou Biológica) e a Antropologia Cultural, para alguns autores sinônimo de antropologia social, focaliza, talvez, o principal conceito desta ciência, a cultura.

Segundo o Museu de Antropologia Cultural da Universidade de Minnesota a antropologia cultural abrange três tópicos gerais que por sua vez subdivide-se e constituem-se como especialidades:
Etnografia
Etnologia
Linguística aplicada à antropologia e Arqueologia.
A cultura e a mitologia correspondem ao desejo do homem de conhecer a sua origem, ou produz um modo de autoconhecimento que é a identidade, diferenciando os grupos em função de suas idiossincrasias e adaptação em diferentes ambientes.

Para pensar as sociedades humanas, a antropologia preocupa-se em detalhar, tanto quanto possível, os seres humanos que as compõem e com elas se relacionam, seja nos seus aspectos físicos, na sua relação com a natureza, seja na sua especificidade cultural.

Para o saber antropológico o conceito de cultura abarca diversas dimensões:
universo psíquico,
os mitos,
os costumes e rituais,
suas histórias peculiares,
a linguagem,
valores,
crenças,
leis,
elações de parentesco,
entre outros tópicos.

Embora o estudo das sociedades humanas remonte à Antiguidade Clássica, a antropologia nasceu, como ciência, efetivamente, da grande revolução cultural iniciada com o Iluminismo.

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