terça-feira, 22 de março de 2011

Antropologia e Psicanálise

Antropologia (do grego άνθρωπος, transl. anthropos, "homem", e λόγος, logos, "razão"/"pensamento") é a ciência que se ocupa em estudar o homem enquanto espécie primata e a humanidade ou seja seus símbolos e produtos culturais.
Uma ciência que conquistou seu lugar evoluindo de relatos de vivências e descrições de costumes feitas por viajantes, afirmando a necessidade da pesquisa de campo e aprofundamento do conjunto de descrições etnográficas (corpus etnograficos) de todos os povos do mundo que vinham se acumulando (Laplatine) .
Distinguindo-se da sociologia e da economia política as denominadas ciências humanas e mesmo da psicologia social enquanto ciência dos costumes e estilos de vida.
A antropologia dialoga com essas ciências afirmando seus próprios métodos e referencial teórico de diversas procedências.
A psicanálise se inclui entre as "psicologias", e em relação à antropologia deve-se considerar a via de mão dupla tanto desta para a antropologia como da antropologia para psicanálise.

A psicanálise, também, pode ser descrita como um procedimento especializado de psicoterapia, uma teoria da personalidade além de uma teoria da cultura ou filosofia sobre a natureza humana aonde residem suas maiores contribuições à antropologia.
Segundo Freud a psicanálise cresceu num campo muitíssimo restrito.
No início, tinha apenas um único objetivo — o de compreender algo da natureza daquilo que era conhecido como doenças nervosas ‘funcionais’, com vistas a superar a impotência que até então caracterizara seu tratamento médico e possuía desde o início a expectativa de participar do desenvolvimento cultural como um fermento significativo auxiliar ao aprofundamento de nosso conhecimento do mundo.


Perspectivas antropológicas
Ainda sobre a relação entre a vida mental dos selvagens e dos neuróticos é o referido antropólogo Levi-Strauss  que nos propõe que a comparação entre a psicanálise e a cura xamânica facilita o entendimento dessa última e considera a possibilidade do estudo do xamanismo, inversamente, vir a ser utilizado para elucidar pontos obscuros da teoria de Freud em especial as noções de mito e inconsciente.

A teoria da cultura como um conjunto de sistemas simbólicos, à frente dos quais situa-se a linguagem e as regras matrimoniais decerto permite uma aproximação desta com a teoria psicanalítica.
Contudo ainda segundo esse autor, a psicanálise a e análise estrutural divergem em um ponto essencial.
Ao longo de toda sua obra Freud oscila sem chegar a escolher – entre uma concepção realista e uma concepção relativista do símbolo.
Para a primeira cada símbolo teria uma significação única.
Poderiam listar-se todas as significações num dicionário, que como Freud sugere não seria muito diferente de uma “chave dos sonhos” menos no tamanho.
A outra concepção admite que a significação de um símbolo varia em cada caso particular e recorre às associações livres para a fixar.

De forma ainda ingênua e rudimentar, ele reconhece, portanto, que o símbolo tira sua significação do contexto, da sua relação com outros símbolos, que por sua vez só adquirem sentido relativamente a ele.

Esta segunda via pode ser fecunda, desde que a técnica simplista das associações livres ocupe o lugar que lhe compete num esforço global que visa reconstituir a história pessoal de cada sujeito, a do seu meio familiar e social, a sua cultura.... Procuraria assim compreender-se um indivíduo do modo como o etnógrafo procura compreender uma sociedade....

E o grande enigma permanece sendo o símbolo.

Jung nos chama atenção que o uso consciente que fazemos do símbolo é apenas um aspecto de um fato psicológico de grande importância:
o homem também produz símbolos, inconsciente e espontaneamente, na forma de sonhos e que há um limite de evidências e de convicções que o conhecimento consciente não pode transpor.
Essa é a característica universal onde a psicanálise tenta se situar como um mito moderno a unidade comum a todas as culturas que Jung designa como inconsciente coletivo e que tenta atingir segundo Lévi-Strauss depressa demais ignorando os aspectos morfológicos, estatísticos e históricos dos grupos que elaboram os sistemas culturais no dizer de Mauss (o.c.)

Ainda na perspectiva das contribuições que a antropologia pode trazer à psicanálise situam-se as questões de caracterizar o próprio saber e fazer da psicanálise, a relação de Freud com a cultura e sabedoria alemã, em especial com a Viena de sua época  além do que já foi mais amplamente discutido, sua relação com a cultura judaica.
Sobre essa última questão vale citar a observação feita pelo próprio Freud  no prefácio de Totem e tabu para língua hebraica... um livro que trata da origem da religião e da moralidade, embora não adote um ponto de vista judaico e não faça exceções em favor do povo judeu.
O autor espera, contudo, estar de acordo com seus leitores na convicção de que a ciência sem preconceitos não pode permanecer estranha ao espírito do novo judaísmo que algum dia, sem dúvida, se tornará acessível ao espírito científico.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Antropologia_e_psican%C3%A1lise

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